Tem gente que acredita que não devemos gritar nossa felicidade, ou contar nossos planos e sonhos em voz alta, mas eu penso diferente. Talvez porque eu passe muito tempo refletindo sobre a minha vida e contemplando milhares de oportunidades diferentes e, quando tomo uma decisão, não tenho medo de que as coisas não deem certo, porque sei que, no que depender de mim, tudo sairá bem.
Faz um mês que me sinto bem, que estou em paz. Fazem uns dias que estou pensando em tudo o que aconteceu nesse mês para que eu me sinta assim e faz uma hora que decidi escrever sobre essa sensação bonita que venho sentindo.
Vocês sabem que eu amo o meu aniversário, amo celebrar a vida e, em especial, a minha vida. Quando chega julho eu já começar a fazer uma retrospectiva mental de tudo o que eu fiz nesse último ano, planejar o que eu quero manter e o que eu quero mudar. Celebro, no meu aniversário, não o simples fato de estar viva, mas cada momento vivido nesses intervalo de tempo que me fez sentir assim. Como presente, sempre me dedico um texto ou um poema, como um ritual de passagem de uma Jacque à outra.
O ano 28 foi um ano de mudanças. De términos. De rupturas. No trabalho, no amor, na família… Esse ano eu, basicamente, o vivi em stand-by. Fui deixando as coisas acontecerem, mas não dessa maneira poética que todos recomendam; inerte e desmotivada. Simplesmente, não me movia. Em matéria, eu pessoa, andei por todos os lados. Em pensamento, estava como água de poça: estancada, esperando o mosquito da dengue.
E as coisas foram acontecendo. Terminei um namoro que não deveria nem ter começado, reatei e desatei laços familiares que estavam frouxos há algum tempo, disse adeus à sentimentos que conservava por pessoas que já não existem mais na minha vida… Tudo isso, enquanto estava em “modo avião”. O bom de estar sozinha há tanto tempo é que eu tive a oportunidade, e o prazer, de me conhecer bem, ao ponto de conseguir me guiar de maneira inconsciente. Obviamente, às vezes, me levo por caminhos que não deveria ir, mas sempre sou capaz de me salvar.
Minha inércia me trouxe até a França. É incrível o poder que eu tenho. No entanto, apesar de ter caminhado longas distâncias, continuava repetindo os mesmos padrões. Continuava preguiçosa e cheia de pretextos para não voltar à ativa. Aceitei um emprego muito abaixo de mim, para evitar estresses, para mim, desnecessários. Igualmente, me estressei, porém nada pude fazer, pois havia aceitado não ter voz. Deixei de investir em mim, mas continuei gastando em inutilidades. Não abri espaço para novos amores, apesar de sentir que estava preparada.
Não me arrependo, nem me julgo, apenas reflito.
Em novembro de 2023, escrevi um texto sobre como não me importaria morrer amanhã. Não por acreditar que já vivi suficiente, nem que já fiz tudo o que eu quero fazer nesse mundo, mas por pensar estar satisfeita com tudo o que já vivi e, se por acaso, tivesse um encontro repentino com a morte, tudo bem.
Em fevereiro, minha atitude perante o futuro, mudou. Descobri que ia ser tia e dentro de mim, voltou a pulsar uma incontrolável vontade de viver. Voltei a escrever, sobre um sobrinho que ainda não conhecia, textos onde lhe contava o quanto lhe amava e o quanto ansiava contar-lhe o maravilhoso que é viver.
A vida segue mesmo quando nós não seguimos. Isso é fato. Porém, quando decidimos seguir com ela, o fluxo é melhor. Por exemplo, quando eu voltei a encontrar em mim, motivação, encontrei, na vida, mais motivos.
Antes que acabasse março, uma empresa me encontrou e me enviou uma proposta de trabalho muito melhor do que tudo que eu havia encontrado (afinal, continuava procurando empregos que não exigissem muito de mim). Aceitei.
No início de abril, veio a notícia de que, infelizmente, esse pequeno ser, depois de haver me dado tanta vida, não teve vida suficiente para continuar. Ele, porém, deixou um legado de amor imensurável. Houve, e há, é claro, dor. Dor essa que até hoje, sinto, que até hoje, choro, que agora, enquanto escrevo essas palavras, me fez chorar. Entretanto, essa chama que ascendeu dentro de mim graças a essa esperança de vida, permaneceu. E, desde então, decidi que vou honrá-la.
Lembro que, um dia após receber a notícia, decidi fazer snowboard sozinha pela primeira vez. Eu, sozinha, na neve branca, debaixo do céu azul, contemplando a beleza da vida e criando coragem para voltar a viver. Ao mesmo tempo, um ato covarde, de não querer estar sozinha com meus pensamentos, de desejar que o vento frio congelasse minhas lágrimas, incessantes há 24hr. Eu, inerte e desmotivada. Eu, viva e enérgica. Eu, paradoxo constante.
Eu, prestes a, novamente, me mudar. De casa, de trabalho, de amigos, de vida. Ainda não estava preparada para mudar de atitude.
Em maio, cheguei em Corsica. De maio a julho, repetia para mim mesma as mesmas desculpas e pretextos para adiar minha mudança de atitude perante a vida. Para estabelecer uma rotina. Para me instalar.
Até que o meu aniversário foi se aproximando…
Já em julho, esse frio na barriga despertados pelo “recomeçar de novo” havia diminuído. Já estava mais confiante, menos emocionada. Coloquei uma data limite para a minha inércia: 20 de julho. E depois desse dia, mudei.
Uma coisa que eu sinto muita falta quando viajo é de ter uma rotina. Irônico, porque parece que minha vida é escapar da rotina, porém, não é. Talvez meu conceito de rotina não seja o mesmo que o da maioria, não me guio pelo tempo, senão pelas atividades. O que eu procuro numa rotina é conseguir encaixar atividades que, para mim, são essenciais, com os meus horários irregulares e inconstantes. Finalmente, consegui conciliar minha vida profissional com a pessoal. Antes, ou trabalhava, ou vivia. Hoje, faço os dois.
Outro dia conversava com uma amiga, com a Laura, preciso mencionar o nome dela, porque vocês não conhecem a Laura. A conheci em maio e passamos só alguns dias juntas e, em meio a reuniões de trabalhos, vimos que nossa loucura se parecia e hoje, quase quatro meses depois desse primeiro e único encontro, não passamos um dia sem falar alguma besteira pelo WhatsApp. A gente ficou tão amiga, que nossa menstruação sincronizou mesmo sem a gente estar perto. A Laura é demais e espero que vocês conheçam ela um dia…
Enfim, conversava com a Laura sobre o retorno de Saturno. Eu não sei muito de astrologia, mas eu me interesso pelo assunto e isso, para mim, é suficiente para achar que eu entendo alguma coisa. Saturno leva em média 29 anos para voltar a posição que estava quando a gente nasceu (uns falam 28, 28 e meio…) e essa volta é interpretada com um novo começo. Voltamos ao ponto de partida, mas com toda a bagagem e conhecimento de uma vida inteira. Ao princípio, é chocante, logo, a gente percebe que está preparado.
É exatamente isso que eu estou sentindo agora. Nesse último passeio de Saturno pelo meu céu, antes de retornar à casa, me virei do avesso. Revirei dores e revivi inseguranças e tristezas. Mergulhei fundo de cabeça no passado, para criar coragem de nadar até a superfície e valorizar o ar que respiro.
Nunca fui tão feliz como hoje. Tão segura. Tão confiante. E ainda que tenha meus momentos tristes, de insegurança e falta de fé, sei que eles não representam o que eu sou. Estou cada vez mais segura de que eu sou amor e de que eu sou feliz. Me rodeio de pessoas que me respeitam e me admiram. Pessoas as quais eu respeito e admiro. Pessoas que estão, que são, que vivem. Pessoas que se questionam, se desafiam e se motivam. Pessoas que, assim como aquele pequeno ser que não chegou a ser pessoa, mantém essa chama acesa em mim.
Não sei se Saturno já chegou a sua posição inicial, mas sei que, aqui onde me encontro, é onde eu quero permanecer. Com essa mesma energia: ativa e enérgica. Basta de inércia.
Valeu a pena esperar.
Jacque
18 de agosto de 2023
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